Parlamentar questiona uso de recursos públicos, mas erra feio na matemática. Apoiadores atribuem o erro ao estafe ruim e despreparo
Por Redação
Um vídeo publicado pelo deputado federal Dimas Gadelha (PT-RJ) vem “causando” nas redes sociais, mas não de forma positiva e sim por um erro grosseiro em um simples cálculo matemático. Após questionar o uso de recursos recebidos pelo município de São Gonçalo, o deputado apresenta sugestões, porém a soma ultrapassa R$ 9 bilhões.
“O que você faria pela sua cidade se tivesse um bilhão de reais?”, inicia o vídeo perguntado. Logo em seguida, apresenta os “possíveis investimentos” .
Confira abaixo:
A conta do deputado não bate
As receitas apresentadas por Dimas Gadelha no vídeo somam R$ 9.277.000.000 (nove bilhões duzentos e setenta e sete milhões de reais). A desinformação e o simples descuido sobre uma equação básica levantou questionamentos da população.
Somente dois investimentos sugeridos pelo parlamentar ultrapassam R$ 2 bilhões. Apesar de estar escrito “milhões”, os numerais apontam o erro: 1.003.000.000 (um bilhão e três milhões de reais) e 1.023.000.000 (um bilhão e vinte e três milhões de reais).
A impressão que se tem é de que o deputado – leiam-se seus assessores – pegou o orçamento de outro município, que não pertence ao estado do Rio de Janeiro, e “confundiu” com São Gonçalo. Contudo, nem a cidade que o próprio deputado tem utilizado como referência (Maricá) possui um orçamento anual tão grande.
“É muito ruim ser representando por um deputado que só aparece na cidade para fazer reunião política, porque é do seu interesse. Quem mora em São Gonçalo está presenciando um salto no desenvolvimento urbano nunca antes visto na cidade, o prefeito atual (Capitão Nelson) está fazendo um bom trabalho. Faltam outras coisas para a cidade melhorar, mas o momento atual é uma importante retomada. A cidade estava parada no tempo há muitos anos”, declara o aposentado José Oliveira, morador do bairro Paraíso há 50 anos.
O vídeo postado pelo deputado também gerou desconforto entre os militantes do partido e desconfiança sobre suas intenções.
“O Dimas é um aventureiro. Prova disso é ter feito campanha para Bolsonaro em 2018. Ele viu uma porta aberta no PT e pulou para cá, sem nenhum constrangimento. Assim como ele próprio, seus assessores diretos não têm a linguagem e os valores condizentes com a ideologia do PT. Não tenho dúvidas de que se um dia nosso partido não estiver no governo federal ele pula para outro. O nome disso é oportunismo”, reclama um filiado do PT em São Gonçalo, que prefere não se identificar para evitar sofrer represálias internas na legenda.
Outras pessoas foram entrevistas nas ruas, mas disseram desconhecer o deputado.
O erro sobre uma equação tão simples coloca em dúvida a capacidade técnica de Dimas Gadelha para assumir a gestão de qualquer cidade.
‘Diga-me com quem andas que te direi quem és’
Parece que o deputado está apostando todas as fichas na eleição municipal desse ano, em São Gonçalo, seu principal reduto eleitoral. Nessa pegada, tem apresentado pautas “sem pé nem cabeça”, como essa do vídeo, no qual se resume a criticar, demonstra profundo despreparo e esquece os governos em que foi secretário: Neilton Mulim (2013-2016) e José Luiz Nanci (2017-2020).
Para os gonçalenses, incluindo muitos militantes do PT na cidade, Dimas Gadelha representa o retrocesso, já que seus principais assessores são ex-secretários de Governo das gestões Neilton Mulim, aquele que foi preso por corrupção com dinheiro escondido na churrasqueira e prometeu a passagem de ônibus a R$ 1,50, e José Luiz Nanci.
O parlamentar ainda “ressuscitou” a ex-prefeita Aparecida Panisset, que está inelegível e foi condenada a devolver mais de R$ 40 milhões aos cofres públicos do município. Seu irmão, Márcio Panisset, que ninguém via ou ouvia falar há mais de 10 anos, também reapareceu para apoiar Dimas. E quem vai pagar essa conta, se perguntam os gonçalenses?
Panisset foi prefeita de São Gonçalo por dois mandatos consecutivos (2005 a 2012) e ficou conhecida na cidade por gastar dezenas de milhões de reais em projetos paisagísticos e reformas de praças públicas, sem deixar nenhum legado. As obras de maior impacto em sua gestão foram frutos de programas dos governos estadual (Bairro Novo e Asfalto na Porta), ainda sob o comando do ex-governador Sérgio Cabral, e federal (PAC), na era Lula (2003 a 2011).
Em resumo, atualmente Dimas Gadelha tem como orientadores e puxadores de voto aqueles que governaram a cidade de 2005 a 2020. E no meio disso tudo ainda tem o apoio do ex-vereador Dejorge, que foi seu adversário nas eleições de 2020 na cidade.
Até a publicação desta matéria, o vídeo ainda estava disponível no perfil oficial do Instagram do deputado.
Publicado em 6/07/24 – 13h11.