Filha de deputado investigado pela PF, Thamires Rangel será subsecretária estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade; engenheiros florestais criticam falta de experiência técnica
A nomeação da jovem Thamires da Silva Lima, de 19 anos, como nova subsecretária estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro, gerou intensa repercussão entre profissionais e entidades ligadas ao setor.
Ex-vereadora de Campos dos Goytacazes, Thamires é filha do deputado estadual Thiago Rangel (PMB), que está sob investigação da Polícia Federal por suspeita de organização criminosa, fraudes em licitações, corrupção e lavagem de dinheiro.
A nomeação ainda não foi publicada no Diário Oficial, mas foi anunciada nesta segunda-feira (13) durante um evento com o governador Cláudio Castro e o secretário estadual de Ambiente, Bernardo Rossi.
“Ela aceitou o convite, sobretudo para cuidar de projetos voltados à juventude, à conscientização ambiental e às regiões Norte e Noroeste do estado”,
afirmou Castro ao anunciar o novo cargo.
Trajetória e perfil político

Natural de Campos dos Goytacazes, Thamires concluiu o Ensino Médio em 2024, pouco antes de tomar posse como vereadora. Eleita com 5.483 votos, foi a segunda mais votada do município e a única mulher entre os 25 parlamentares da Câmara campista.
A jovem adotou o sobrenome político “Rangel” durante a campanha e, em seu primeiro mandato, integrou as comissões de Direitos Humanos e Minorias, Defesa da Criança (como vice-presidente) e Direitos da Mulher (como presidente).
Apesar da futura função na área ambiental, não fazia parte da Comissão de Meio Ambiente e não menciona sustentabilidade em seu perfil institucional, no qual declara atuar em “desenvolvimento econômico, melhoria do transporte público, inclusão social e defesa dos direitos das mulheres”.
Críticas e posicionamentos técnicos
A Associação Profissional dos Engenheiros Florestais do Estado do Rio de Janeiro (APEFERJ) divulgou uma nota pública criticando a escolha, classificando-a como “um indicativo de desvalorização profissional” e apontando a falta de experiência técnica da nomeada.
“Uma nomeação dessa natureza coloca em risco a eficácia das políticas públicas e a proteção do patrimônio natural fluminense”, afirmou a entidade.
O comunicado reacendeu o debate sobre a influência política e a ausência de critérios técnicos na ocupação de cargos estratégicos da administração pública estadual.
Salário e atribuições
Com a nova função, Thamires deixará o cargo de vereadora — cujo salário era de cerca de R$ 14 mil mensais — para assumir o posto na Secretaria do Ambiente. A pasta não informou o valor exato da remuneração, mas subsecretários costumam receber entre R$ 14 mil e R$ 16 mil brutos.
Nas redes sociais, a jovem afirmou encarar o desafio com entusiasmo:
“Sinto que essa oportunidade chegou até mim porque tenho a capacidade e a disposição de representar nosso estado em um tema tão fundamental: a defesa do meio ambiente e a construção de políticas públicas sustentáveis.”
Pai é investigado pela Polícia Federal
O pai da nova subsecretária, deputado Thiago Rangel, é alvo de inquérito da Polícia Federal por suspeita de envolvimento em esquemas de corrupção, fraudes e lavagem de dinheiro.
Em 2023, agentes da PF cumpriram mandados de busca e apreensão em 14 endereços ligados ao parlamentar, incluindo seu gabinete na Alerj, a Câmara de Vereadores de Campos e a Prefeitura do município.
A investigação começou após a prisão em flagrante de um assessor de Rangel, em setembro de 2022, acusado de corrupção eleitoral e apontado como braço direito do grupo investigado. O deputado, entretanto, nega qualquer envolvimento em irregularidades.
Repercussão e silêncio oficial
Enquanto a nomeação é comemorada por aliados, que defendem a renovação e maior participação feminina em cargos de liderança, profissionais do setor ambiental alertam para o risco de fragilização técnica das políticas públicas ambientais.
A Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS) ainda não se manifestou oficialmente sobre as críticas da APEFERJ nem sobre as investigações envolvendo o pai da nova subsecretária.
Por Danilo Bello Pires



