Quando era candidato a prefeito de Itaboraí, em 2020, Marcelo Delaroli (PL) fez diversas promessas durante sua campanha, sobretudo na saúde pública, área na qual ainda não conseguiu realizar as ações garantidas no discurso político naquela ocasião. Vencedor no pleito municipal, ele está em seu terceiro ano de mandato.
Entre as medidas firmadas com a população itaboraiense, Marcelo garantiu reestruturar e ampliar a rede de postos de saúde da família, com objetivo de aprimorar o atendimento básico de saúde da família; facilitar o recebimento de remédios; estender os horários de atendimento nas unidades de saúde do município, regulamentando o terceiro turno para melhor cobertura do atendimento nos distritos.
O atual prefeito de Itaboraí, Marcelo Delaroli, também prometeu estudo para reestruturação e criação de novas unidades de Pronto atendimento (UPAS); além da criação do programa municipal e das clínicas de atendimento à saúde bucal.
O jornal O Contexto foi ouvir as opiniões da população de Itaboraí e o resultado só foi reclamação.
Um funcionário da secretaria municipal de Saúde de Itaboraí, que não quis se identificar com medo de represália por parte da prefeitura, afirmou que a gestão do secretário Hédio Mataruna é uma das piores que já passaram à frente da pasta.
Segundo o homem, certos cargos na administração pública necessitam de técnicos para operar na área e não pessoas despreparadas.
“Temos o Cosminho que é médico por formação, tivemos o Sandro Ronquetti, administrador da área e, agora, temos um pastor. A população não quer stories no instagram, a população quer que a rede funcione. Ele pode ser um bom pastor, mas é um péssimo secretário. Sabemos que é parente do prefeito Marcelo. A saúde não é brincadeira de redes sociais. Lidamos com a vida das pessoas. Não adianta ficar fazendo hora extra e o trabalho não chegar na ponta, que é o atendimento à população. O que estamos passando na secretaria e o que a população está reclamando não é fake news. Isso é a mais pura verdade. Basta ir a alguma unidade de saúde para conferir esse descaso”, denunciou o funcionário público.
População reclama do atendimento

No Hospital Municipal Desembargador Leal Júnior, a situação é a mesma: relatos de atendimento ruim, que às vezes demora horas.
“Nós queremos médicos, remédios, um atendimento decente e digno. Para nós, o que menos importa é quem comanda esse hospital, mas sim a qualidade do serviço prestado, que sempre foi muito ruim. Eu não estou vendo a reestruturação e ampliação da rede de postos de saúde da família prometida durante a campanha”, diz Geni Tavares, de 46 anos, acompanhante da sobrinha Alice Tavares, de 17, que tenta descobrir a origem de uma grave infecção e aguardava com dores abdominais, há doze horas, pela realização dos exames.
Mulheres passam muitas horas na porta do Centro de Especialidades de Saúde de Itaboraí (CESI), para conseguirem fazer uma simples consulta. A unidade não tem dado conta da demanda de pacientes.
“Um monte de gente que chegou cedo. Estava uma confusão porque tem gente que chegou lá às 6h. Eu fui atendida primeiro, elas ficaram lá. Teve gente que desistiu e saiu reclamando. Só que falaram que iriam atender, nem que fosse de madrugada. Uma moça falou que aquilo era uma falta de respeito. Aí responderam que, se quiséssemos, poderíamos ir embora. Achei isso um absurdo”, contou a paciente Carla da Silva, moradora de Visconde.
A falta de medicamentos na rede pública de Itaboraí prejudica o tratamento de pacientes que ficam sem a medicação. O aposentado Josinaldo, de 50 anos, toma mais de dez medicamentos por dia. Ele costuma pegar as medicações na farmácia, mas há 6 meses volta para casa sem parte dos medicamentos.
“São 13 medicações que eu tomo por dia. Dessas 13, eu só consegui duas. E a quantidade que eles me deram só dá para seis dias. Dificilmente eles passam uma previsão e essa previsão é real. Eu não tenho condições de comprar. Eu queria perguntar ao prefeito: “onde está a ampliação e efetivação do programa médico de saúde da família?”, questiona. Ele também reclama da falta de insumos como fitas e agulhas para controlar diabetes.
É preciso ter gestão na saúde de Itaboraí, afirma especialista
O especialista em saúde pública, Paulo Roberto Feldmann, considera que a má gestão, não apenas na saúde, mas também em vários outros setores, criou um cenário em que não é mais possível escapar da redução de gastos.
Segundo ele, o preço da judicialização, o desperdício de dinheiro em exames e procedimentos desnecessários e os altos custos das novas tecnologias são exemplos de problemas que aumentam os gastos com saúde que poderiam ser cortados sem prejuízo à saúde da população.
“É preciso ter gestão na saúde de Itaboraí. Cortar gastos, acabar com o desperdício. Percebemos que a prefeitura de Itaboraí não acompanhou com investimento o crescimento da população. A população só procura o atendimento quando está doente e, infelizmente, tem dificuldades para encontrar. É preciso investir na rede de postos, realização de exames e, principalmente, na urgência e emergência do único hospital de porta aberta que é o Leal Junior”, avalia.
Mudanças de secretários de Saúde
Nos primeiros dias de governo, o prefeito de Itaboraí, Marcelo Delaroli, exonerou o primeiro secretário da pasta, Cosme José Salles Filho, mais conhecido como Cosminho (filho do ex-prefeito Cosme Salles).
Em seguida, nomeou Sandro Ronquetti o segundo (seria indicação do então procurador e secretário de Governo Pedro Ricardo Queiroz). Em janeiro, o prefeito tirou Sandro do cargo. Analice ficou como interina até efetivar o pastor da Igreja Lagoinha, Hédio Mataruna, no comando.
Nova pessoa jurídica no hospital no município
Uma nova pessoa jurídica foi contratada pela Organização Social Mahatma Gandhi, que administra o Hospital Municipal Desembargador Leal Júnior, desde o início da gestão do ex-prefeito Sadinoel.
A fonte também informou que a mudança foi feita a pedido do secretário de Saúde, Hédio Mataruna. O interessante é que o subcontrato da Mahatma Gandhi é um dos maiores do hospital. Já que não houve licitação, precisa ser colocado a público, afinal de contas, o povo precisa fiscalizar. Cadê os vereadores? Cadê os parlamentares da Comissão de Saúde da Câmara?
Hospital Municipal São Judas Tadeu
Em março de 2021, a prefeitura de Itaboraí informou que tinha alinhado com o Governo do Estado a retomada das obras do Hospital São Judas Tadeu. Paradas desde 2020, a secretaria municipal de Saúde chegou a afirmar que as intervenções começariam no segundo semestre do ano retrasado.
Na época, o então secretário municipal de Saúde, Sandro Ronquetti, recebeu o subsecretário de infraestrutura da Secretaria de Estado de Cidades, Bruno Paraíso, para iniciar o levantamento do que faltam aos três prédios anexos da unidade hospitalar para serem finalizados e entregues à população.
As equipes constataram que ainda é preciso finalizar reparos estruturais na ocasião, fazer a parte elétrica e hidráulica, além de serviços de acabamento. Em seguida, finalizam com a instalação dos equipamentos.
O novo espaço deverá abrir 120 leitos permanentes para cidade e terá um prédio separado para o refeitório e lavanderia, além de ainda contar com um outro edifício exclusivo para toda administração do hospital.
A proposta da Prefeitura de Itaboraí é ou era transformar a unidade em uma ampla maternidade e abrir ainda uma entrada para internações de Emergência Referenciada no local.
Tendo como suporte o Hospital Municipal Desembargador Leal Júnior, em Nancilândia, poderá ampliar o número de cirurgias. Pelo visto, o procedimento ficou na promessa. Cadê a retomada das obras, secretário?
