O general Gustavo Henrique Dutra prestou depoimento à CPI mista que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, afirmando que recebeu uma ligação do então comandante do Exército, general Freire Gomes, em 29 de dezembro, com instruções para que a Polícia Militar interrompesse a desmobilização do acampamento montado por apoiadores do ex-presidente Bolsonaro após as eleições de 2022. O objetivo era evitar um confronto iminente poucos dias antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O general explicou que o comandante do Exército estava acompanhando a situação e percebeu que o clima na praça onde o acampamento estava instalado havia se tornado mais tenso. Diante disso, ele determinou que a operação fosse cancelada com a presença da PM e que prosseguisse apenas com a atuação do Exército, conforme o planejado anteriormente.
Gustavo Henrique Dutra era o chefe do Comando Militar do Planalto (CMP) na época dos ataques de 8 de janeiro e era responsável pelo Quartel General do Exército em Brasília durante os acampamentos golpistas organizados por apoiadores de Bolsonaro. A atuação do Exército foi criticada devido ao tempo necessário para desmobilizar o grupo, uma vez que alguns dos invasores que atacaram as sedes dos três poderes estavam abrigados no acampamento.
O general esclareceu que a ligação do comandante do Exército ocorreu três dias antes da posse de Lula, quando o movimento na praça dos cristais havia aumentado significativamente. Durante a semana entre o Natal e o Ano Novo, o acampamento contava com a presença de cerca de 300 a 400 pessoas por dia. No entanto, em 29 de dezembro, esse número subiu para aproximadamente mil manifestantes.
O comandante do Exército percebeu um “clima tenso” na praça e considerou inviável um confronto às vésperas da posse presidencial. Ele enfatizou que a ordem recebida não estava relacionada ao artigo 142 da Constituição Federal, que foi usado por manifestantes que pediam intervenção militar, e que o objetivo principal era garantir a normalidade da posse de Lula.