outubro 22, 2024
22/10/2024

Operação revela compra legal de armamento por policiais para grupo do bicheiro Capitão Guimarães

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Operação revela compra legal de armamento por policiais para grupo do bicheiro Capitão Guimarães

Uma operação conjunta da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) descobriu uma trama intricada envolvendo policiais que adquiriram armas de fogo de forma legal, com o aval do Estado, a serviço da máfia que controla o jogo do bicho e as máquinas caça-níqueis no Rio de Janeiro. Essa investigação se originou no contexto de desmantelamento da organização criminosa liderada por Ailton Guimarães Jorge, conhecido como Capitão Guimarães.

O esquema chocante engloba tanto policiais militares quanto civis, um policial penal e o proprietário de uma loja de armas na Baixada Fluminense. Utilizando suas prerrogativas como agentes de segurança e com a devida autorização de suas corporações ou da Polícia Federal, mais de 20 indivíduos ligados à quadrilha se dirigiram à loja de armas e adquiriram pistolas e carabinas nos anos de 2020 e 2021. O pagamento por essas armas, no entanto, foi efetuado pelo grupo de Guimarães. O armamento resultante dessas transações ilegais foi utilizado na escolta de bicheiros e na segurança de pontos de jogo ilegal.

A revelação dessa fraude foi possível graças à obtenção de arquivos de áudio e vídeo provenientes da quebra de sigilo telemático do inspetor da Polícia Civil Alzino Carvalho de Souza. Atualmente preso e acusado de liderar a segurança de Capitão Guimarães, Alzino desempenhou um papel central no esquema. Em uma das imagens que fazem parte da investigação, é possível visualizar uma lista com 23 nomes de agentes de segurança escritos à mão, incluindo 20 policiais militares, dois policiais civis e um policial penal. A lista menciona a aquisição de 23 pistolas e 22 carabinas (junto ao nome de um dos agentes, está escrito “só pistola”).

Nove dos agentes citados na lista estão vinculados ao 12º Batalhão de Polícia Militar (BPM) em Niterói, onde, segundo a investigação, Capitão Guimarães mantém o controle sobre o jogo ilegal. O documento também apresenta um cálculo do valor total gasto na compra dessas armas: R$ 312 mil.

Em áudios extraídos do e-mail de Alzino, o inspetor detalha o esquema e revela a conivência do proprietário da loja de armas, que tinha plena ciência da origem do dinheiro utilizado nas compras e do fato de que os agentes estavam sendo usados como “laranjas” pela quadrilha. Em outubro de 2020, Alzino explicou em um áudio enviado ao empresário que eles estavam efetuando uma compra, mas seriam os próprios policiais que iriam até a loja para realizá-la. Ele menciona a necessidade de evitar suspeitas dos órgãos correcionais das polícias e insinua que o pagamento seria parcelado para evitar problemas.

As conversas entre Alzino e o dono da loja de armas se estenderam até agosto do ano seguinte. O empresário chegou a enviar fotos das armas ainda nas embalagens. O Ministério Público do Rio de Janeiro destaca que, com base nesses diálogos, o vendedor tinha conhecimento pleno da operação ilegal em curso.

Uma imagem mostrando os números de série de 23 pistolas Taurus modelo TS9, calibre 9mm, foi enviada pelo proprietário da loja ao chefe da segurança de Capitão Guimarães. O MPRJ cruzou esses números com os bancos de dados do Exército e da Polícia Federal, confirmando que 17 delas estavam registradas nos nomes dos agentes mencionados por Alzino. As demais armas ainda se encontravam no estoque da loja.

Vale ressaltar que as mudanças nas regulamentações ocorridas durante o governo do então presidente Jair Bolsonaro antes das compras permitiram que as armas adquiridas pela quadrilha tivessem um poder de fogo maior. Anteriormente, pistolas e carabinas 9mm eram consideradas armas de calibre restrito e não poderiam ser compradas por agentes de segurança para uso particular. No entanto, um decreto presidencial de 2019 expandiu a lista de calibres de uso permitido. Isso levou Alzino a cogitar a possibilidade de seus comparsas adquirirem até fuzis.

Embora parte das armas envolvidas nesse esquema tenha sido identificada, elas ainda não foram apreendidas. Com base nessa investigação, Alzino e Capitão Guimarães enfrentam acusações de organização criminosa e homicídio. Atualmente, o inspetor está detido, enquanto o bicheiro responde ao processo em regime domiciliar. A Polícia Militar alega que ainda não foi oficialmente notificada sobre os fatos, mas garante que, assim que for informada, tomará medidas para apurar o ocorrido. A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) também alega não ter sido notificada sobre a investigação. A Polícia Civil esclarece que a aquisição de armas de fogo por policiais civis depende de autorização da Polícia Federal e que já existem processos disciplinares em andamento contra os policiais civis envolvidos.

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