O vai e volta dos buracos na maioria das ruas e avenidas de São Gonçalo representam um pesado custo para o bolso do contribuinte, resultado de projetos equivocados e gestão movida à corrupção. Os danos causados pelo tempo, pelo tráfego e pelas chuvas sobre as 100 ruas que foram“asfaltados” sob responsabilidade da prefeitura de São Gonçalo setor público levam para o ralo todos os anos R$ ?? Milhões. Além disso, a qualidade do “banho de asfalto” começa a ser questionada pela população gonçalense.
O desperdício se dá por meio de obras malfeitas e, especialmente, pelas conhecidas operações tapa-buracos, tocadas pelo prefeito de São Gonçalo, Capitão Nelson (PL), muitas vezes sem licitação e com o único objetivo de intervenções eleitoreiras. As obras de reparação de estradas aumentam em vésperas de eleições e, coincidentemente ou não, a prefeitura de São Gonçalo decidiu dar um “banho de asfalto” na campanha do então candidato a deputado estadual e filho do prefeito, Douglas Ruas (PL).
De acordo com a auditora do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, Cláudia Viegas, o desperdício de dinheiro público está associado à ineficiência, pois são comuns erros na contratação de obras. “A manutenção recorrente de ruas e avenidas podem denunciar falhas na concepção do projeto. Além da falta de especificações em contratos que contemplem variáveis como clima, tipo de solo e tráfego. De outro, está a burocracia. As autoridades se apegam à regra do menor preço definida pelos órgãos de fiscalização e desconsideram características regionais e exigências técnicas para os empreendimentos. Pelas fotos da reportagem é visível essa constatação”, explicou o auditor.
Para o professor e doutor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFF, Carlos Rodrigues, nesses casos, entende a economista, a solução está em melhorar o planejamento, investir em estudos prévios e cobrar resultados a longo prazo.
“Sobretudo nas novas obras, já há consenso sobre a validade de observar o prazo global, que inclui a expectativa de vida útil do empreendimento. As licitações devem focar qualidade, que é uma aliada do cidadão. Também começa a se consagrar a percepção sobre o tipo de pavimento mais adequado para cada obra, como o concreto usado em corredores de ônibus, pistas para aviões e rodovias de tráfego pesado e intenso. O asfalto não é mais a única opção. Existem hoje 20 tipos de pavimentação, moldados conforme a necessidade”, acrescentou.
“Os órgãos de controle de gastos públicos são indiferentes quanto ao tipo de material empregado no pavimento. O asfalto ou concreto, mesmo que o segundo dure até cinco vezes mais, representa despesa menor com manutenção ao longo dos anos. Isso é prerrogativa dos contratantes (governos), esclarece Liliane Galvão Colares, secretária de Fiscalização de Obras do Tribunal de Contas da União (TCU). Mas ela ressalta que está ganhando força a exigência de cláusulas de desempenho em obras. Com isso, empreiteiras estão sendo obrigadas a refazer trechos que não duraram o tempo prometido nos contratos.
Moradores questionam a qualidade do “banho de asfalto”
Na Rua Felipe Pizzuto, no bairro Boa Vista, a reportagem flagrou alguns pontos do asfalto que já começaram a ceder, deixando aparente o calçamento anterior, feito de paralelepípedos. Para o administrador Anderson Cardoso, a qualidade do asfalto é questionável. “É de péssima qualidade. Já está deteriorando por inteiro e o trecho entre o Batalhão e a Imbel está só esperando uma chuva para acabar. A pista tá se acabando, isso é uma falta de vergonha. Não colocaram canaleta às margens, quando chove vem tudo pra cima da pista. Espero que os políticos possam consertar isso aqui. Podemos dizer que essa pista é feita há oito meses, é uma pista sonrisal”, reclama o morador.
O professor universitário Marcos Neves também aponta a má qualidade do serviço no mesmo local. “Próximo do Batalhão já estão reformando vários pontos. Nem deu tempo de inaugurar e já precisou de reformas. Quando vierem as chuvas, aí vamos ver se vai aguentar, É só chover e o asfalto tem que ser reposto por falta de qualidade. A Prefeitura não faz a parte. Virão substituir, com certeza, mas será da mesma qualidade. Deveria ser diferente, porque o gasto é muito maior quando você tem que repor. A qualidade está muito ruim, falta administração e supervisão, porque é um dinheiro mal gasto. É retrabalho. A comunidade sofre com isso, porque tem a deterioração do carro e podem acontecer acidentes”, comentou.
A professora Léia Gonçalves Silva teve sorte. Em fevereiro, ela sofreu um acidente, por conta de um buraco, numa das principais vias do bairro Zé Garoto. Oito meses se passaram, e até hoje, nada mudou. “Os responsáveis têm de cuidar da rua, para não acontecer acidentes como o meu. Basta andar pelas ruas da cidade para perceber que muita coisa ainda precisa melhorar. Os veículos precisam desviar dos buracos, um perigo para motoristas e pedestres. Principalmente quem tem moto, tem que desviar mais. É perigoso esses buracos, precisa dar um fim nisso. Venho até mais cedo para evitar o trânsito. O principal problema é amassar o protetor de cárter, amortecedores, bucha de bandeja. O prejuízo fica em média de R$ 500 a R$ 1 mil”, afirmou a contribuinte.