Como se fossem grandes acontecimentos para a cidade, o prefeito de Itaboraí, Marcelo Delaroli (PL), tem divulgado massivamente reformas em praças e serviços de manutenção nas ruas, como recapeamento de asfalto, eventos culturais em praças públicas, troca de lâmpadas queimadas nas ruas e limpeza urbana. Contudo, essas são ações básicas da prefeitura. Deveres inadiáveis que estão previstos no orçamento público. Já cumprir as promessas feitas durante a eleição, em 2020, é mais difícil.
A prática de enganar a população com ações que se limitam a manter a cidade como sempre esteve é quase cultural no município, que vem sofrendo há anos com aumentos populacional e da violência, a falta da geração de emprego e renda: de oportunidades, de modo geral.
Enquanto a prefeitura divulga o que não passa da sua obrigação, a população permanece dividida. Uns enxergam a covardia e exploração que vem se desdobrando há décadas na cidade. Outros, sem entender o jogo, continuam acreditando nas promessas vazias e sem planejamento ou metas orçamentárias e de execução.
‘Saúde não interessa, para o resto é que tem pressa’
Não é de hoje que são apresentadas as negligências e falácias do prefeito Marcelo Delaroli, em detrimento ao desenvolvimento da cidade. A área da saúde tem sido uma das mais criticadas.
Para se eleger, em 2020, Marcelo garantiu que iria reestruturar e ampliar a rede de postos de saúde da família; facilitar o recebimento de remédios; estender os horários de atendimento nas unidades de saúde do município; criar um hospital da mulher e da criança; reestruturar e criação de novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAS); e a criação do programa municipal e das clínicas de atendimento à saúde bucal.
Sem a tal “reestruturação” prometida, a rede de saúde pública é alvo de constantes reclamações dos moradores do município. É comum saírem da cidade para buscar atendimentos em outros lugares, o que gera transtornos aos contribuintes e sobrecarrega as unidades das cidades vizinhas.
População insatisfeita
“Queremos médicos, remédios, um atendimento decente e digno. O serviço prestado no hospital sempre foi muito ruim e continua. Também não enxergamos a reestruturação e ampliação da rede de postos de saúde da família prometidas durante a campanha”, questiona Geni Tavares, de 46 anos, se referindo ao Hospital Municipal Desembargador Leal Júnior.
Mulheres passam muitas horas na porta do Centro de Especialidades de Saúde de Itaboraí (CESI) para conseguir uma simples consulta. A unidade não tem dado conta da demanda de pacientes.
“Um monte de gente chegou cedo. Alguns às 6h. Eu fui atendida, mas teve quem desistiu e saiu reclamando. Uma moça reclamou, disse que a situação é uma falta de respeito. Então responderam que poderíamos ir embora, se quiséssemos. Achei isso um absurdo”, conta a paciente Carla da Silva, moradora de Visconde.
Até funcionários da própria secretaria municipal de Saúde de Itaboraí têm reclamado. “A cidade hoje tem um pastor como secretário e a gestão da pasta é tida como a pior até hoje”, critica o servidor, que não quis se identificar com medo de sofrer represália do governo, se referindo a Hedio Jacy Jandre Mataruna.
Promessas não cumpridas: reclamações através do humor
Em referência à contação de histórias que não se concretizam, no hall de memes da política fluminense o prefeito de Itaboraí foi transformado em Forrest Gump, personagem do cinema conhecido pela imaginação e a capacidade de inventar realidades e criar expectativas.
Entre outros fatos, a sátira também afirma que os moradores da cidade já estão cansados de apenas ouvir o que é conveniente, principalmente em época de eleição.
Entretanto, o contador de histórias do cinema não gera prejuízos à sociedade, muito pelo contrário, é um entusiasta do desenvolvimento e do bem-estar social. Não lida com dinheiro público prometendo oferecer dignidade à população, mas entrega descaso.
Faltando um ano para novas eleições, o governo municipal corre para evitar que os moradores da cidade “acordem” e reflitam sobre a necessidade real de mudança.
A maioria dos compromissos assumidos por Delaroli com a população, ao ser eleito em 2020, não foram cumpridos. E o tempo já caminha para o fim de sua administração.
Apesar de apresentar uma gestão fraca e sem avanços para a cidade, corre nos bastidores a informação de que Marcelo Delaroli desejaria emplacar seu irmão, Guilherme Delaroli (PL), na prefeitura do município, enquanto ele próprio poderia se candidatar à prefeitura de Maricá.
O cenário inverso também seria considerado pela estratégia. Guilherme foi eleito deputado estadual no ano passado com apoio da máquina pública municipal.
Garantiu que ia fazer, mas não fez
Criação dos “vermelhinhos” – Ônibus que circulam pela cidade com tarifa zero, em Maricá, os vermelhinhos ficaram somente no imaginário da população de Itaboraí. Não cumpriu e não há sinalização de planejamento sobre o assunto no governo.
Legalizar vans, kombis e moto táxis – Somente um único movimento sobre o assunto foi feito pela prefeitura, em março de 2021. Gerou uma empolgação, mas ficou só nisto mesmo.
Estudo para a criação de unidades de educação destinadas à formação profissional – O governo está “estudando” até hoje. Quem não está são os jovens que aguardam oportunidades de profissionalização no município.
Criação da moeda social – Espelhado no ativo voltado para a distribuição de renda, Mumbuca, criado em Maricá, até foi lançada em Itaboraí, em maio do ano passado. Contudo, sem incentivos aos desenvolvimentos econômico e social, ainda não decolou na cidade.
Criação de um centro de monitoramento e instalação de câmeras de monitoramento nas áreas públicas e vias do município – Também não saiu do papel.
Gestão ‘pão e circo’
Na vizinha São Gonçalo, a prática da gestão do prefeito Capitão Nelson Ruas (PL) tem sido semelhante. Apesar do orçamento bilionário nos cofres, nenhuma intervenção necessária foi realizada na cidade. Ficou tudo nas promessas. Pior é que algumas não tem nem previsão de serem concretizadas. Se forem…!
Capitão Nelson e Marcelo Delaroli compõem o partido do ex-presidente Bolsonaro (PL) e se elegeram com base nas bandeiras empunhadas pela extrema direita. Basicamente o lema Família, Pátria, Deus e Liberdade, apesar de nunca termos chegado a uma conclusão sobre o que isso significa de verdade.
PT de olho na prefeitura em 2024
O grupo petista não concorda com a política de gestão do atual prefeito e já vem alinhando um pré-lançamento da deputada estadual Zeidan (PT) à disputa pela prefeitura de Itaboraí em 2024. Em seu segundo mandato na Alerj, a parlamentar já instalou até uma base na cidade.
A falta de comprometimento do prefeito Marcelo Delaroli com as propostas definidas em comum acordo com o PT teriam motivado o afastamento do seu vice-prefeito, Casula (PT), do governo.
Casula foi indicação do PT na composição da chapa de Marcelo Delaroli, em 2020. Costurada pelo deputado federal Washington Quaquá (PT), a aliança consistia em adotar políticas públicas reconhecidas como exemplos de sucesso em Maricá.
Por Patrick Guimarães – Em 29/05/23